Tuesday, January 23, 2007

Blog

As Jeffrey Moussaief Mason states:

"Human beings are not always aware of what they are feeling. Like animals, they may not be able to put their feelings into words. This does not mean they have no feelings. Sigmund Freud once speculated that a man could be in love with a woman for six years and not know it until many years later. Such a man, with all the goodwill in the world, could not have verbalized what he did not know. He had the feelings, but he did not know about them. It may sound like a paradox -- paradoxical because when we think of a feeling, we think of something that we are consciously aware of feeling. As Freud put it in his 1915 article The Unconscious: 'It is surely of the essence of an emotion that we should be aware of it.' Yet it is beyond question that we can 'have' feelings that we do not know about."


Aquilo que eu mais temia aconteceu: o meu blog tornou-se emo; melhores tempos virão.

Thursday, January 18, 2007

A vida na rua é dura. Nunca sabemos se devemos estar naquele canto ou no outro. Ás vezes deixam-me passar no bar da rua da casa do Unhas (o das minis) ou no parque do Quiosque do vesgo. Desde que não o faça descaradamente e não passe aos putos não há problema, vem todo o tipo de gente: os que não têem dinheiro, os que se controlam, os que têem muito dinheiro, meninos da alta, velhos de quarenta anos com ar de oitenta, homens, mulheres, transexuais, pretos, brancos, chinocas... os indianos não vêem não sei porquê, não devem gostar ou se calhar é porque têm alguma coisa paralela... os de leste, turistas tudo, tudo o que nós conhecemos e vemos na rua acaba por ir la parar. Seja comigo ou com o resto do pessoal todos juntos poderíamos dar dados para uma estatística melhor do que a de qualquer agência. Muitos são clientes habituais até que são dissuadidos ou que morrem e os novos normalmente vêem a conselho ou por razões que prefiro não conhecer. "Dá-me um chuto", "Ola sou amigo de tal, não me queres deixar experimentar para eu saber se quero mais", odeio essas frase, "ou queres uma boa dose ou bem podes ir po caralho, não me mexo por uns trocos. Se te recomendaram é porque presta ou não?". O chefe diz vende tudo mas eu não tou para me chatear por pouco. Só saio de casa para fazer a ronda ou para vender grande, "se queres comprar pequeno descobre-me na rua".
"Nunca dizer não" dizem-nos, "não podes ter compaixão pelas pessoas a quem vendes, se elas começam é porque querem, toda a gente sabe o que isto faz, se vêem uma vez é porque a querem mesmo".
Eu não estava à espera disto... se ela nunca tivesse dado o primeiro chuto se calhar não tinha chegado a isto. Evitávamos os problemas, ela, a dor da ressaca e a reabilitação, eu, o complexo e o arrependimento de duas más decisões... nunca devia ter começado a passar, e nunca lhe deveria ter passado. Não tive alternativa, foram as condições e o que passei que me trouxeram aqui. Quando via o fácil que era, o simples que se tornava a minha vida ao recusar o esforço de uma vida dita normal e ir pelo caminho do toma-lá-da-cá-não-há-problema-até-nunca.
Começou a viciar-se, comprava-me todos os dias, alguns dias duas ou três vezes. Também lhe tinham recomendado, telefonou-me e pediu-me um chuto, eu não podia deixar de pensar no que podia estar detrás do auscultador. Quis vê-la, é verdade. Estava curioso, tentar sacar alguma coisa, vamos ver no que pode dar, veio ter ao meu portão.
Estava nova, era uma miuda sã, fumava as suas tinha tido a época de grandes doses mas agora ia com calma. Contra tudo o que me dizia o homem do topo aconselhei-a a não dar o primeiro chuto, não me ouviu... eu também tenho que admitir que o dinheiro vinha mesmo a calhar. E não é todos os dias que se tem uma visita daquelas... Começou a viciar-se, e eu já ia embalado, a minha vida estava estável, fantástica, não tinha que fazer nada de especial mas ela tinha-me como unica fonte. Comecei a preocupar-me. Quando vinha agressiva e histérica eu sabia que tinha metido a pata, dei-lhe demasiado e não consegui evitar que lhe fizesse mal. Se parasse de vender deixava de a ver durante um tempo, e isso não era uma hipótese viável; mas se lhe continuasse a vender sabia que depois de um tempo nunca mais a veria. Tive que tomar a minha segunda decisão: deixei de vender-lhe e paguei-lhe a reabilitação. Graças a isso cortaram-me três dedos*, mas não importa, quando saia vai perceber que a heroína é uma merda e não vai querer que eu a venda. Se tudo correr bem vou ser eu a ter que deixar de vender e poder aproximar-me outra vez. E vão-me cortar um braço ou talvez uma perna, mas eu vou-me aperceber que a própria droga que vendo tornou-se perigosa para mim também.





*É engraçado como há coisas opostas que não se cancelam, duas decisões opostas dão resultados igualmente errados. Vender começou um problema, e deixar de vender não o resolveu. É onde a matemática falhou, aqui -1+1 não é 0, não volta tudo atrás.

Monday, January 15, 2007

A chuva

Porque é que há chuva em Madrid? Se Madrid não tem mar porque é que chove tanto?
A chuva funciona por umas regras muito lógicas de comunicação. Como os correios, ou o mercado mundial de peixe.
Madrid está longe do mar e portanto não devia chover, mas, como todas as cidades têm chuva, os politicos e governantes da Comunidad de Madrid fundaram uma agência, a agência secreta dos contactos climatéricos. Esta agência comunica com os portos climatéricos que tem - em zonas especialmente húmidas e de grades massas de água - por meio de ventos, mensagens codificadas em frentes frias e frentes quentes. Fabricados por umas grandes máquinas de aquecer e arrefecer o ar, os ventos são o meio de enviar a mensagem de maneira secreta e relativamente rápida. Estas mensagens são captadas pelas máquinas que estão nos portos climatéricos, interpretadas e rapidamente têem a sua resposta transmitida em efeito, ou seja: Se Madrid envia uma mensagem a pedir chuva e o porto calcula que as condições são possíveis e que o pedido é razoável nem responde, envia logo as nuvens necesárias; se a resposta é não, não envia o efeito climatérico e a resposta é essa* mesma falta de resposta (imagíne-se o poder político desta agência, que se pode dar ao luxo de dar respostas deste género!).

Esta história com ares de ficção não é mesmo ficção, esta agência não é nova. A ASCCM Existe há já muito tempo e teve o seu tempo áureo nos anos 50 (ainda não havia a comunidad de madrid mas madrid como cidade central do estado). Nesta altura a população, embora não conhecesse bem as entranhas da agência ou o tema que tratava (como hoje em dia com o ministério da ciência), sabia da sua existência, comentava e até protestava contra respostas dadas pelos portos. Zangava-se a sério quando o boletim metereológico as enganava e faziam muitas piadas e ditos em que o tempo era figura central. A pouco e pouco, em vez de morrer como na memória dos cidadãos a agência evoluiu e tornou-se secreta. Varias outras cidades descobriram esta agência e tentaram copiar, algumas com muito êxito até (nenhuma como a de Paris), o sistema há muito implantado em Madrid.

O último boletim do departamento comercial previa a venda do franchise a cidades como New Orleans e Miami (casa assaltada, trancas à porta).
No sudeste asiático há um sistema muito parecido mas bastante mais complexo e multiestatal fazendo com que o tráfico de informação seja tão grande que por vezes deixe de funcionar o sistema e o clima fique fora de controlo.




*porque realmente ninguém se importa demasiado com as mudanças climatéricas não catastróficas e afinal o que importa se chove terça ou segunda? Por isso também não nos aborrecemos quando o boletim metereológico nos enganou e até achamos que não vale a pena falar disso a não ser que se esteja numa situação muito desconfortável.

Até à próxima, O Homem do Tempo

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