Wednesday, March 23, 2005

Alma lusa

Tudo começou com as laranjas:
- Epah esta laranja está boa! Doce! - disse eu aos empregados.
Enquanto me virava para os encarar depois de o ter dito, o senhor Manel dizia-me:
- Essas são nossas, nacionais... são as melhores.
A Salomé perguntava se não eram espanholas.
- Naa, as espanholas são mais esbranquiçadas, boas boas são as nossas! Eles quando são para vir para cá fazem muitas muitas em estufas e depois mandam-nas. Nos somos muito bons em muitas coisas.
Eu olhava para ele com um ar sorridente.
- Nós fazemos muitas coisas bem - continuava - os outros, os que competem connosco fazem mil, nós fazemos dez mas as nossas são boas, muito boas! Nós temos qualidade, o português é bom, podemos fazer menos, mas fazemos muito melhor; enquanto as deles duram seis meses as nossas duram quatro ou cinco anos, e eu prefiro comprar uma coisa que dure mais cara que uma coisa que seja barata para deitar no lixo.
O senhor Manel é o estereótipo alfacinha: é de alfama, bairrista, baixo com o cabelo grisalho de uns sessenta anos e escuro, esteve em angola "a matar pretos" e ás vezes parece racista embora não o seja; nasceu em Braga mas estão-lhe nas entranhas todos os atalhos do bairro e da cidade, a sua sabedoria é absolutamente popular o que não é sinónimo de parvo.
-E guerreiros?! Os portugueses são guerreiros... foram... agora já não somos nada, eu digo bem mas também sei dizer mal quando é preciso porra!, Um de nós corria um batalhão com um pau na mão! Hehehe... - alguns dentes de trás já desapareceram - Olha o Afonso Henriques! De norte a sul aquilo era longe, dantes era muito longe, a cavalo e sem estradas; hoje não, hoje faz-se tudo em três horas, mas dantes... hã!
- E os americanos? São cobardes, aquilo batem muito mas com máquinas, porque são cobardes nós não, é corpo a corpo, mas agora não, agora está tudo sujo desde há algum tempo para cá que estragaram a nossa história, fomos guerreiros a sério! E os descobrimentos eia os descobrimentos... olha espera la que tenho que ir tratar daquilo. O senhor Manel foi educado no tempo da ditadura, em que os portugueses eram ensinados como um grande povo, de feitos extraordinários; é das coisas que talvez devesse ter ficado...

Herbalizer - The blend

Tuesday, March 15, 2005

Uma bica por favor!

A medicina veio estragar a raça humana. As teorias evolutivas são inválidas para nós nos tempos de hoje. Não podemos deixar os fracos para trás e tornarmo-nos mais fortes. É a nossa racionalidade que nos separa dos animais, em tudo somos contra natura, mas toda essa anti natureza há uma naturalidade absurda. Somos naturalmente inventivos e é essa genialidade que nos faz termos uma existência absolutamente artificial; há uma sede demasiado grande pela existência individual, as nossas comunidades são um disfarce para o nosso egocentrismo.
Já dominamos o mundo, para quê preocuparmo-nos com a propagação da espécie? Agora é a altura de combatermos aquilo que nos tenta expulsar daqui, somos fruto de uma selecção artificial e bem orgulhosos disso. Qual é o propósito de criticar os meios contraceptivos e a homosexualidade quando as nossas leis anti aborto e morte assistida são completamente incoerentes com as primeiras duas? Naturalmente: uma mãe sem capacidade para criar os filhos deixa-os ao abandono em prole daqueles que pode criar, uma pessoa perto da morte não pode viver com a ajuda de orgãos não naturais, naturalmente, estaria morta; naturalmente o sexo é feito para ter filhos logo, se não se quer ter filhos tem de haver abstenção; naturalmente dois homens ou duas mulheres não devem ter relacções (homo)sexuais pois a partir destas não há criação, a clonagem não é uma solução porque não é um meio natural. Coerente ou não? O nosso cérebro evoluiu naturalmente, os mais burros morreram os mais inteligentes sobreviveram, é o nosso maior instrumento e é natural tudo o que dele provém pode ser feito à luz da natureza. Um carro é natural, a destruição da camada de ozono é natural, o aborto é natural, a medicina é natural, tal como a eutanásia, o preservativo e o chupa-chupa. "God made grass, man made beer, wich one do you prefer", matarmo-nos uns aos outros é natural, matarmos o culpado é natural, sim, temos o direito de julgar... a comunidade tem o direito de julgar e acabar com a vida. Não, a comunidade não tem o direito de acabar com a vida, mas o dever de proteger a integridade do indivíduo ainda que atente contra a vida de dezenas de outros. Os clãs devem proteger os seus membros, se se justificar atacar outros clãs por recursos então porque não assegurar a sobrevivência da espécie mais forte, mais inteligente? E disciplina? E diplomacia? E "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei"? Os sistemas tendem para entropia máxima, ainda que para a atingir ajam de forma organizada... então porque é que no início era o caos?

GAJAS E CERVEJA ARGHHH

Stone temple pilots - Sex type thing

Thursday, March 10, 2005

Estava a andar na rua a comer um pauzinho de alcaçuz, passei por um mendigo que me pediu um: "Epah chegaste tarde, 10 minutos antes e tinha-te dado este último." representei eu da melhor maneira que sabia. "É... eu já conheço esses últimos". Indignadíssimo tive uma discussão pacífica com ele sobre a verdade do meu último pauzinho de alcaçuz. Mas... e se fosse verdade?! E se aquele fosse mesmo o último pauzinho de alcaçuz? Poderia dar-lhe outro e impedi-lo de me criticar? Não, não podia... então que alternativa tem aquele que diz a verdade? Mais vale ter e não dar e pensar: "o gajo que se lixe, também, a saltar para juízos precipitados..." do que não ter e pensar: "o gajo que se lixe, também, a saltar para juízos precipitados...". Há uma falta de fé no Homem perturbadora (justificavel porém perturbadora), dizem-se coisas absolutamente falsas com a certeza absoluta que são verdade; o pior é que as vezes são mesmo, o que faz com que diminua a fé, logo a vontade de fazer alguma coisa para que esta aumente, logo... (ciclo).
Tinha muitas coisas ainda para dizer, mas parei de escrever para falar no messenger e esqueci-me; talvez voltem mais tarde ou noutro dia.

The Doors - Touch me