Tuesday, October 23, 2007

Vamos ter calma

Ufff... como começar...

Ontem na televisão saiu a notícia das afirmações racistas de James Watson, para quem não sabe o descobridor da estrutura de dupla helice do ADN, prémio Nobel da medicina e cientista de primeira linha no campo da biologia molecular e da genética: James Watson declarou a hipótese da diferença racial no que toca à inteligencia. Muito depressa, os ignorantes meios de comunicação social e outros quantos declaradores leigos na matéria despacharam-se em atacá-lo pelo bem da nossa sociedade igualitária.
O unico pecado de Watson é provavelmente a falta de pragmatismo: o seu unico problema Sr. Watson é não ter guardado essa informação durante mais tempo e talvez estudar melhor a maneira de a transmitir à sociedade. Desde logo que dize-lo em público assim não é politicamente correcto.
E como definimos nós o politicamente correcto? Politicamente correcto não significa nem humana nem éticamente correcto, aquilo que está correcto politicamente é aquilo que não leva à exaltação de todas as pessoas que estão à nossa volta e que não interpretam da mesma maneira por terem à partida permissas diferentes nas suas bases linguisticas, politicamente correcto é não explicar as coisas de acordo com os significados etimológicos e académicamente correctos das palavras. Desta maneira, Watson peca só pela sua integridade pragmática ao explicar uma coisa que sabe (ou devia saber) que vai ser controversa de uma maneira ligeira a pessoas que preferem escandalizar a entender.

Os comentários de Watson são obviamente racistas, mas racistas porquê? Porque definem diferenças entre raças. Racismo não é nada mais do que apologia à raça. A existencia de raça dentro da espécie, como há boxers, retrievers e schnauzers, há ários, latinos, pretos, portugueses da beira, portugueses do sul, latinoamericanos. Estas diferenças existem e a mim parecem-me bastante obvias, quem não as veja é cego, astémico e surdo porque não temos a mesma cor, não temos o mesmo cheiro e não temos as mesmas vozes, eu sou racista porque sei que isto é assim (não estamos num tema em que se acredite ou não acredite, é assim).

Volto a definir racismo para quem não leu as primeiras linhas, se centrou nas seguintes, se escandalizou com a comparação com cães e perverteu completamente os meus comentários: Racismo, se formos à sua origem etimológica é fazer apologia à existencia de raças e afirmar as diferenças entre elas. Naturalmente, para ser pragmático não uso esta concepção de racismo quando converso, porque coloquialmente a palavra racismo ganhou o significado de xenofóbico, o preconceituoso em relação à raça diferente. Atenção, falo de preconceito não de estereótipo, falo da atitude contra a diferença, não da consciencia e aceitação da mesma.

Eu li as afirmações de Watson em diários espanhóis, um argentino e li as afirmações de Watson que foram publicadas no Guardian. As afirmações dos dois primeiros foram traduzidas do terceiro, e o terceiro, que não manipulou mas citou o que disse Watson interpretou mal.

Em nenhum momento Watson referiu a inferioridade da raça com base na inteligencia, uma raça não é inferior por na globalidade ter um nivel de inteligência diferente - e por favor, sublinhem o diferente as vezes que quiserem mas saibam o seu significado. É natural que a evolução (como com os pássaros) de acordo com pressões ambientais distintas não será a mesma para individuos distintos da mesma espécie em sítios diferentes. É natural que a diferença física entre grupos seja notória quanto mais nos afastamos tectónica, climatérica e espacialmente; e não nos podemos esquecer que o cérebro como qualquer parte do nosso corpo evolui fisicamente de acordo com a lei do uso e do desuso, e quem tem uma predisposição genética para um melhor aproveitamento desse uso funciona melhor, não significando que quem não a tem não funcione muito bem com o uso contínuo.

Quanto às afirmações de James Watson em relação à politica nos países africanos há outra má interpretação. O facto de que politicamente aí se funcione mal não é só fruto de uma inteligencia diferente (desde logo não inferior), é fruto de uma inteligencia diferente obrigada a adaptar-se a um sistema elaborado por e para outro tipo de inteligencia numa tentativa de colonização ideológica. Já no liceu se fala de genes coincidentes, ou seja, características aparelhadas por acaso que aparentemente funcionam bem juntas no mesmo meio e se mantéem assim.

O facto de que os corpos, as líbidos e as inteligencias sejam diferentes não devia chocar ninguém, infelizmente, a maior parte das afirmações novas (certas ou não) causam revolução dentro do mais racional dos seres por pressões sociais. Eu sou menos capaz de fazer negócio que o Bill Gates ou o Puff Daddy e não me sinto menos pessoa, sou mais pobre que o Tiger Woods e que o Cristiano Ronaldo e não me considero inferior, sou definitivmente menos sexy que o Johnny Depp ou que o Usher mas não me desmoralizo por isso nem tenho o génio creativo do Takeshi Kitano nem do Woody Allen e acho que também vou poder criar cinema à minha maneira (mentira isto é mentira). Neste caso estabeleço diferenças entre os indivíduos, mas o que se aplica ao indivíduo aplica-se ao grupo, e ser normal, fazer parte da maioria dentro de um grupo não é absolutamente obrigatório para fazer parte de esse grupo, disso sai-se, seja por acaso genético ou trabalho, se não se gosta do estereótipo tenta-se não pertencer a ele seja como for.

Eu não me ofendo quando se diz que os portugueses são perguiçosos e pouco organizados porque sei, que ainda que a regra geral seja assim, muita gente luta para não o ser e pequenas alterações vão acontecendo. Para nos indignarmos com Watson deviamos indignarnos com os rankings de PIB, com os pódios desportivos e com qualquer estereótipo físico ou psicológico (que é físico também).
E no final entramos no debate cultura vs genética: há sempre duas pessoas dispostas a discutir sobre isto, mas a verdade é que o vs está a mais, desde pequeninos que nos ensinam que se influenciam mutuamente e o grande erro é atribuir a responsabilidade da evolução só a um destes conceitos, qualquer que seja.´

Sr. Watson eu percebo o que quis dizer e sei que o disse porque acredita nisso sem qualquer preconceito racial mas sim a noção da existência das diferenças entre raças.

O pedido de desculpas de James é tão inteligente como ele e não retira nunca o que disse; o pedido de desculpas é pela sua falta de pragmatismo, o pedido de desculpas é em relação a ter dito o que disse a quem o disse:

"I cannot understand how I could have said what I am quoted as having said. I can certainly understand why people, reading those words, have reacted in the ways they have. To all those who have drawn the inference from my words that Africa, as a continent, is somehow genetically inferior, I can only apologize unreservedly. That is not what I meant. More importantly from my point of view, there is no scientific basis for such a belief".

Estou aberto a qualquer insulto ignorante, sei que não estou errado. Sou Racista, admito a diferença, mas não trato as pessoas de maneira diferente. Depois disto, volto a usar a palavra Racista como o preconceito para que toda a gente perceba o que quero dizer e volto a ser pragmático em ambientes que sei que não estão a ouvir com atenção.

"We do not yet adequately understand the way in which the different environments in the world have selected over time the genes which determine our capacity to do different things," (...) "The overwhelming desire of society today is to assume that equal powers of reason are a universal heritage of humanity."(...)"It may well be. But simply wanting this to be the case is not enough. This is not science. To question this is not to give in to racism. This is not a discussion about superiority or inferiority, it is about seeking to understand differences, about why some of us are great musicians and others great engineers."

James Watson in The Independent (aquilo que se diz como uma clarificação mas que para quem não percebeu à primeira vai soar igualmente a chinês)

Ok Jo - Vivaldi "L'inverno"

P.S: espero que tenham gostado do comentario racista final em relação à lingua chinesa, nem me dei ao trabalho de restringi-lo a um dos dialectos. Chinês e pronto.

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