Friday, November 19, 2004

Eroica

Foi em 2004 que o actor, produtor e realizador Mel Gibson lançou o seu filme polémico "The passion of christ"; e eu na minha ingenuidade defendi o filme. Contrariando todos os que me diziam que o filme não prestava, que não tinha história, que era demasiado violento, sensacionalista, desnecessário e presunçoso por ser falado em aramaico a minha posição sempre foi de extrema aceitação do filme e admiração da coragem para o lançar, em qualquer altura, quanto mais durante a instável situação religiosa que se vive no mundo actual (e que sempre se viveu, para dizer verdade).
O filme tinha uma qualidade que eu distinguia por uma aglomeração de factores, aliás, exactamente pelos argumentos mais comuns de depreciação do mesmo:

- a história não é um elemento que requira uma originalidade ou diferença enorme para que torne um filme bom, pode acontecer que seja muito mais importante a maneira como se conta a história do que a história em si. Porque é que "a branca de neve e os sete anões" contados pela disney é bonito e o mesmo conto visto naquelas cassetes de vídeo do "já nas bancas" não? Um final imprevisível não torna de imediato um filme bom, tal como uma história banal não torna um filme estupidificante. Para mais, como relato histórico e tal como o título do filme diz, a Paixão é sobre isso mesmo: "A Paixão de Cristo", ou seja, o caminho percorrido desde a sentença de Cristo à sua morte;
- A violência no filme é extrema, e extrema foi a violência com que foi tratado Jesus Cristo aquando da sua tortura e crucificação. Uma crucificação não é indolor e seca, implica sangue e "carne a saltar" tal como uma tortura com chicotes de farpas. A violência gráfica do filme não é gratuita, é uma violência necessária para o despertar de consciência de muitas pessoas que não vêm a sua religião como deveriam ver - fruto do sofrimento genuíno de um homem que estava convencido de que o que estava a fazer era realmente para a salvação da espécie humana - e por isso não a apreciam devidamente. A violência impiedosa permite-nos sentir psicológicamente (ou pelo menos aproximarmo-nos muito) o que pode ter sido sentido pelo corpo em tortura, e desta maneira dar o verdadeiro valor à vida em paz e com amor como ensinada pela religião.
- O aramaico é uma tentativa inovadora (e a meu ver bem conseguida) de fornecer uma visão mais realista da época, sim porque "A Paixão" é um filme de época, e talvez de fuga ao cliché que presume que no cinema só existe a língua "Americano".
- O antisemitismo inerente ao filme é virtual visto que a verdade é que Jesus Cristo foi mesmo julgado, torturado e morto por judeus; o facto de isto ser mostrado não nos permite tirar conclusões de qualquer tipo de tentativa de segregação criada pelo filme. Cada indivíduo é como é, e se no passado os filmes mostravam os romanos como tiranos ou os alemães como bestas estas interpretações não podem ser dissecadas partindo do princípio da má fé do escritor ou do realizador mas sim apercebendo-se da situação relatada e dos indivíduos em questão.
- Existe um diabo a meu ver bem caracterizado (nem homem nem mulher como todos os anjos)e que serve para manter algum interesse místico e esotérico num filme que tendo a ver com religião tem que seguir regras que não são explicáveis de uma maneira palpável ou factual.


Embora a guerra religiosa não seja uma coisa nova é preciso admitir que estamos num periodo hostil para este género de manifestações e o lançamento deste filme prova uma certa coragem de Mel Gibson face a críticas que poderiam muito bem tirar-lhe grande parte da sua legião de fornecedores de dinheiro (fãs).

Ora no outro dia passei por um canal que mostrava "A vida fabulosa de Mel Gibson" e aí mostravam que este ilustre senhor vendeu o copright do seu filme para que se pudessem fazer pendentes com pregos da cruz e bugigangas do género baseadas no filme e que tivessem "Oficial from The Passion of Christ". Depois de me dar conta do que estava a ver decidi que o que quer que eu tenha interpretado ou concluído do filme não partilha em nenhum ângulo ou plano da visão do realizador e produtor que apenas viu um grande filão depois da primeira exibição do seu filme. Desta maneira mantenho o que disse acima sobre o filme mas retiro-lhe competência.




Estava a ouvir Guru & Herbie hancock - Timel

1 Comments:

Blogger Jair said...

Os blockbusters enriquecem as pessoas involventes!A sério,acredita,sou eu que te digo.Por mais estranho e absurdo que te pareça a pessoas que fazem dinheiro com a industria cinematografica.Mesmo os que querem passar a mensagem.

Quanto ao filme como um amigo meu dizia não traz nada de novo.É um filme compltamente americano em que o Heroi morre no fim sacrificado para salvar o seu povo,e como bom filme americano que é o jovem no final da pelicula retorna a vida para daqui a uns anos poderem fazer a secuela e ganharem mais uns trocos.

Quanto ao Mel Gibson acho que não o deves censurar por tentar passar a mensagem do senhor e ao mesmo tempo tentar ganhar algum, se vires bem é o que o clero faz a centanas de anos.

E tambem não devias censurar o clero pela suposta contradiçao de terem que viver de uma forma simples e alguns deles,felizmente cada vez menos,ostentarem imensa riqueza.Se vires bem quem começou com as contradiçoes foi Jesus.Ele pregou e divulgou por toda a humanidade a paz e o amor ao proximo mas ja ouve mais pessoas a morrer em nome dele do que por qualquer outra entidade neste minusculo planeta.

9:45 AM  

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