Tuesday, November 16, 2004

Dissertação gastronómica

Em continuação ao meu discurso sobre gelatina do post anterior gostava de expor uma teoria que tenho vindo a desenvolver ao longo de vários anos:
Existe na Ericeira - essa terra de ouriços, jagozes e meninos de Lisboa - uma casa chamada Pão da Nossa Vila, padaria de passagem obrigatória para qualquer visitante da terra de surf por excelência em Portugal. Ora, eu não quero falar dos seus croissants com chocolate razoáveis, nem das suas tranças gosmosas, nem sequer dos outros bolos que não são nada por aí além... mas os "queques da Ericeira" esses queques sim, pagam sózinhos uma viagem. Mas... e aí começa o meu ensaio, existe uma maneira para comer estes queques, que aliás serve para qualquer tipo de queque só que estes em particular são o exemplo perfeito. Um queque, para ser bem comido, tem que ser começado por baixo, aquela parte que desagrada a toda a gente porque não é nem estaladiça nem brilhante e tem a enervante propriedade de ser seca, esta parte pode ser agradavelmente comida se for ingerida depressa (defendo até por vezes que o seja feito tudo de uma vez) e de preferência com um copo de leite à mistura para que não se fique embuchado; vão-me dizer: "ahh mas leite não presta sumo é muito melhor e tal", mas eu insisto: leite é muito mais nutritivo e tem um sabor que condiz perfeitamente com tudo o que sai de uma padaria. Ora depois de despachada a parte menos agradável seguem-se as MAMAS. Sim, mamas salientes, estaladiças e com um muito ligeiro travo salgado que as torna realmente deliciosas; estas deve ser comidas uma a uma e lentamente pois o momento é para disfrutar na sua plenitude. Só depois, e para acabar bem, comemos a cabeça, essa bossa brilhante que nos chama das mais variadas formas: com maçã, noz, passas, pinhões e outros guarnecimentos tais que levam qualquer um a uma loucura extasiante.
Tal como disse esta técnica pode ser aplicada a outros queques, mas quem nunca experimentar nos queques da ericeira nunca perceberá o porquê da necessidade de teorizar esta prática.
Resumindo: os queques da ericeira comem-se de baixo para cima, não vale a pena andar com rodeios ou cerimónias; primeiro a parte debaixo, depois as mamas, só depois a cabeça e garanto-vos que encontrarão uma intensidade de prazer muito maior do que a esperada num simples queque.

Também se recomendam as merendas num sítio que não sei o nome mas é numa rua que sobe à direita de quem está de frente para o mercado e os biscoitos de manteiga do "Gama". Estes são de um consumo mais livre tomando em conta que qualquer merenda é melhor quente do que fria.


Rodrigo Leão - A Casa

3 Comments:

Blogger Pyny said...

Os queques do gama são sem dúvida 10x superiores aos do Pão da Nossa Vila...E em primeiro lugar comem-se sempre as mamas..smpre...por isso não é de baixo para cima..mas de cima para baixo..tem muito mais lógico...Eles nem deixariam que comessas logo pela parte queimada se seca, se não ingerida com um pouco de leite...
E se pensares um pouco mais ainda um queque não paga a viagem à ericeira..paga a viagem para poder comer queques...Ou paga a viagem para poder pagar queques...
P.S: Este comentário não é para ser interpretado de frma obscena....ou então não...(ou então não não é = é)

10:15 PM  
Blogger Jair said...

És um pessimo anfitrião...ja ai estive a passar uns dias e queques nem velos,sei que tives-te a fazer umas coisas que se assemelham a palavra queques mas neste caso com croassaints..com francesas queria eu dizer,peço imensa desculpa o ATLETA!!!
A unica coisa que eu sei é que se não fossem os ovoso do teu pai(ja que estamos no nivel obsceno da culinaria) eu ia passar muita fome...ATRASADO MENTAL!!!

2:59 AM  
Blogger Pyny said...

A fúria revelada...ou então não...De facto tens razão..quem é que quer queques quando se pode ter bolos? Ou ovos com farinha se preferirmos..?

6:11 PM  

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