Sunday, October 23, 2005

Integração vs identidade

Na equipa em que jogava todos tinham talento, boa capacidade física e os requisitos necessários para serem bons jogadores, a parte de um ou outro que tinham chegado onde chegaram (mesmo no meio pequeno em que se estava) por conhecer alguém ou por estratégias menos leais; ele tinha uma identidade diferente no sentido em que dava uma importância à táctica que os seus colegas não davam, era a sua característica, uns gostavam de ir ao ginásio, uns tinham talento natural, uns gostavam de jogar com a cabeça (diga-se cérebro), uns simplesmente iam mais aos treinos e por isso evoluíam, mas ele gostava era da táctica.
Toda a família via nele uma paixão maior do que outra qualquer pela táctica e os amigos, não só os da equipa como os de fora da equipa, também o associavam instantaneamente a esse interesse – um pouco como o professor Fonseca e o macramé – quando viam jogo táctico lembravam-se dele e quando descreviam o seu amigo não podiam deixar de lado a sua paixão pela organização e previsão de jogadas.
Houve um momento em que depois de ter tentado acabou por ser aceite numa equipa da primeira liga, aí sim jogavam como ele gostava, tudo eram planos, organização, funcionava tudo como uma engrenagem perfeitamente económica e bem oleada. No entanto, e apesar de o terem aceite na equipa porque ele era quem realmente interessava ao treinador e porque este achava que ele tinha potencial para jogar naquele género de equipa, ele não conseguia deixar de se sentir fraco e pior que os outros: os outros iam mais ao ginásio, tinham mais talento natural e jogavam de uma maneira mais inteligente do que ele alguma vez tinha visto, todos iam aos treinos todos, ainda treinavam por vezes nos tempos livres e pior, eram jogadores tacticamente bastante melhores, por vezes até parecia que falavam de outra maneira tão mais evoluída e mais conhecedora era que ele achava que não percebia e não conseguia acompanhar.
Tudo aquilo que ele queria era jogar na primeira divisão e irónica e cruelmente começou a perder a identidade que tinha e a ganhar um grande sentimento de inferioridade, passou a ser mais uma das ovelhas tácticas em vez de a ovelha táctica num grupo de ovelhas diferentes, e pior, no rebanho em que estava era a ovelha que ficava para trás, a que tinha a lã mais curta e a que dava menos leite, tacticamente falando claro.

3 Comments:

Blogger Jair said...

Queres partilhar alguma experiencia antiga?

12:58 PM  
Blogger zaok said...

muito bom o texto, alguém em especial ?

3:57 PM  
Blogger Pyny said...

Trauma infanto-juvenil?

12:14 AM  

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